sábado, 23 de abril de 2016

Ficção Estrogênica - Capitulo III - Billy

Billy era um dos raros EGIs vivendo tempos de grandes e rápidas transformações em meio a uma sociedade confusa e pressionada por tais mudanças. As pessoas se sentiam aprisionadas à idéia de obterem fama e sucesso em pouco tempo. Uma avalanche de idéias e polêmicas ao redor de diversos assuntos. Assuntos esses, frutos dessas transformações: as mudanças climáticas, a escassez dos recursos naturais, o impacto imediato de decisões econômicas na vida das pessoas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, as guerras religiosas, as diferenças pessoais entre outras transformações que mundo deveria atravessar nessa era.
Para Billy, isso tudo não parecia um problema. Sua natureza EGI permitia enxergar todos os pontos de vista rápida e logicamente que ele sempre se saía bem em qualquer discussão entre os grupos de coleguinhas. Billy possuía dons visionários que possibilitavam que ele se colocasse no lugar das pessoas e também enxergasse o impacto de diversas situações na condição da liberdade coletiva, porém, a cegueira e o ego da maioria sempre predominavam. 

Billy sempre estava antenado em todos os assuntos: desde os assuntos simples do colégio, aos assuntos políticos. Tinha enorme facilidade em utilizar computadores, smartphones, aparelhos eletroeletrônicos, aplicativos, games e não se sentia oprimido pelo stress do dia a dia com a obrigação de estar antenado e acompanhando todos os movimentos do mundo como os demais amigos, porém tinha consciência de que o planeta estava caminhando para as ruínas diante do que estava acontecendo com os recursos naturais e também temia uma grande devastação humana diante de suas diferenças e intolerância. Frequentemente procurava os conselhos de Brian, um velho EGI que tinha por missão doutrinar os novos EGIs e protegê-los das armas científicas que procuravam calá-los.

Brian sabia que os pequenos EGIs corriam perigo com os medicamentos que tentavam anestesiá-los de seu estado naturalmente criativo e dinâmico pois ao longo de sua existência presenciou muitos de seus amigos enlouquecerem ou tirarem a própria vida. Vivia-se a ditadura fria contra os EGIs de sua geração. Muitos usavam as artes e a música para expressarem a sua inteligência e amor absolutos porém Ector, uma espécie de líder político alimentava a ideia de ter os EGIs sob seu controle. Ele queria explorar seus dons para fins de manipulação humana a favor de seus interesses gananciosos. 

- Hey Brian, não consigo entender porquê as pessoas se sentem felizes se as outras pessoas fizerem sua vontade. 
- Você foi coagido, Billy? Por favor, não me esconda nada. Não podemos correr riscos.
- Não, Brian! Acabei de assistir uma reportagem na TV sobre um atentado terrorista dos Manfs contra o povo Crods. Muitas pessoas morreram. E a troco de quê, Brian? Por não aceitarem que sua religião não é a única? Vejo o tempo todo o conteúdo do momento sendo proliferado por defensores e por opositores numa guerra de egos e opiniões que não findam e não mudam em nada a condição e conduta da sociedade. Estamos realmente caminhando para a intolerância e não ao aprendizado. Não existe o lado certo ou errado.

Pela primeira vez, Brian presenciou um sentimento urgente em Billy que despertava seu dom de liderança. Ficou em silêncio por alguns segundos, tragou seu cigarro e suspirando, disse:

- Billy, Billy... isso tudo é consequência das escolhas humanas no passado. A escolha da divisão e do julgamento de que outras culturas não são adequadas ao futuro do planeta e de que o acúmulo do poder e do dinheiro os fazem mais fortes um contra o outro. Mas para você que é um legítimo EGI, será impossível aceitar pois consegue ver a beleza na diversidade e a prosperidade dos povos e do planeta na cooperação. 

Nesse momento, Billy fechou os olhos e notou sua própria transformação. Seu dom de liderança foi despertado. Seu papel de protagonista no mundo não apenas se baseou no fato de possuir poderes e dons mas no seu próprio esforço mental de continuar a missão de sua linhagem:

- Brian, não entendo porque estamos aqui. Por que somos poucos e de que adiantam os dons se a humanidade está se destruindo e arruinando o planeta.

Brian que há muito tempo mentorava Billy em garantir seu equilíbrio diante de sua mutação em relação aos demais seres humanos, naquele momento sentiu que ele estava se tornando um homem e que já estava preparado para a sua missão, então, serenamente recitou um verso de Neil Peart que faz parte de uma canção EGI de sua banda de rock progressivo que ele tanto apreciava:

"Se o futuro parece escuro, 
Somos nós que devemos brilhar
Se não há ninguém no comando
Somos nós que definimos o limite
Embora vivamos em tempos difíceis
Somos nós que devemos arriscar
Embora saibamos que o tempo tem asas
Somos nós quem devemos voar"

Nesse dia, Billy com toda sua sagacidade EGI sacou que seus dons de liderança estavam totalmente abstraídos das menções referente a manipulação, poder, fama e sucesso e que seu papel de líder seria transformar as mentes humanas em fortalezas evoluídas, saudáveis e criativas em prol do resgate do planeta e da cooperação entre si.








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