segunda-feira, 20 de abril de 2015

O Cio da Terra - Milton Nascimento e Chico Buarque

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão


Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel


Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão

Essa música é pura emoção que me remete aos meus antepassados. 
Raízes humanas que viviam pela terra... viviam da terra e para a terra...
Cada estação, sua atribuição:
a preparação do chão, a escolha e a separação das sementes,
o plantio regado de fé... O fogo e o ar já faziam parte da cerimônia, restava a ação da irmã água...

À espera.... após plantar, vivia-se o tempo da espera... a espera sofrida de quem vive da terra, de quem tem a humildade e a sabedoria de que não é maior e nem melhor que a terra. E na espera vivia-se de solidariedade e fraternidade... dividia-se o pão e dividia-se com alegria.

E na alegria floresciam os roçados... A terra era fecundada com o sorriso e a fé de uma Maria confiante, de um Julio calejado, de um Antônio devotado. Era como se as sementes quisessem fazer parte daquela alegria e clamassem num grito milagroso pela  manifestação do poder dos quatro elementos juntos, agindo ao mesmo tempo.

Então chove... e sorrisos desdentados tornam-se os mais belos... e os corpos não resistem e saem do apendre para dançar, pés secos e calejados se misturam na lama... Água abençoada, o elemento que faltava.

Em poucos meses, a festa da colheita... o milho, a cana, o algodão o feijão de corda... Seu Julio desce a ladeira com a saca de feijão nas costas...e do apendre do casarão branco percebe-se seus passos ansiosos... 

Á noite é fogueira de São João no terreiro iluminado com o luar e as estrelas... Na cozinha, são as Marias contando causos e descascando o milho colhido embaixo das luzes do lampião para fazer a pamonha ....

Na mesa tinha lugar para todos, onde se agradecia o cio da terra, onde se agradecia o milagre do pão, a doçura do mel e a certeza de que dela, somos feitos.
O CIO DA TERRA

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